
É o título irônico de uma história que ficaria mais bem descrita pelo antigo provérbio: por fora bela viola, por dentro pão bolorento. Na classe média retratada no filme as pessoas são bonitas e moram em casas confortáveis em condomínios de ruas arborizadas. Têm de tudo, mas ninguém é feliz porque o modo de vida americano ― competitivo, materialista e conservador ― se impõe como um empecilho à individualidade e ao relacionamento saudável.
Lester Burnham é o protagonista que narra a história do ano em que morreu. Portanto, desde o início, o espectador sabe que ele morre no fim. Resta descobrir como e porque. Lester não tem mais interesse no trabalho, e a família não tem mais interesse nele. A mulher considera-o um fracassado profissional, um típico “perdedor”, que na cultura americana é muito pior do que ser um mau caráter "vencedor". A filha adolescente despreza-o pelo que ele é e pelo que não é.
Em uma apresentação no colégio, em que os pais compareceram por obrigação moral e a adolescente preferia que não tivessem ido, Lester se encanta por uma colega da filha. A paixonite acorda sua sensibilidade, que o faz reagir ao desamor familiar. A situação doméstica se agrava. A esposa sente os reclamos do marido como mais um problema a lhe roubar energia da luta por ascensão profissional. A filha, ao ver o pai transtornado pela colega, despreza-o com mais ardor. E a amiguinha, que passa a frequentar a casa, diverte-se provocando o desejo do pai e o ciúme da filha.
Faltou contar que Lester é um homem saudável de 42 anos, e, portanto, não vai morrer de doença, nem de velhice, será vitimado por uma tragédia passional.
REFERÊNCIAS
Sam Mendes dirigiu É Apenas um Sonho em 2008: Leonardo DiCaprio e Kate Winslet formam um casal americano de classe média baixa que, na década de 1950, com dois filhos pequenos, quer abandonar seu cotidiano medíocre para recomeçar a vida em Paris. Em 2002 fez Estrada para Perdição: Tom Hanks é um gangster que tem que proteger da própria “família”, a Máfia, seu filho pequeno que presenciou um assassinato.
Kevin Spacey, o ator que interpreta Lester Burnham, ganhou o Oscar de melhor ator coadjuvante por Os Suspeitos e ainda atuou em: Quebrando a Banca; Superman – O retorno; A vida de David Gale; Austin Powers em O Homen do Membro de Ouro; K-Pax – O caminho da Luz; Seven – Os Sete Crimes Capitais; etc.
Annette Bening, a atriz que interpreta a mulher de Lester, também atuou em: Adorável Júlia; A Premonição; Nova York Sitiada; Meu Querido Presidente; Bugsy; etc.
QUER MAIS?
8 indicações para o OSCAR 1999: melhor filme, diretor, roteiro original, ator, atriz, fotografia e música. Ganhou 5: melhor filme, diretor, roteiro original, ator e fotografia.
DIA IDEAL PARA ASSISTIR
Melhor assistir de bem com a vida. O filme é divertido, mas melancólico. Pode precipitar graves decisões para quem já estiver meio inconformado em família ou no trabalho.
POR QUE GOSTEI?
É um filme bonito de história surpreendente. Mostra como o conforto material pode anestesiar as demais dimensões humanas, em particular, o amor e a compaixão. É uma crítica de costumes da sociedade americana perfeitamente válida para os segmentos prósperos de países como o Brasil.
SERVIÇO
Para Acompanhar
Nada de especial: pipoca e refrigerante.
Pausa
Um ponto bom para interromper a sessão é um pouco antes do meio do filme ao final da cena em que Lester tem um sonho erótico com a amiga da filha, começa a se masturbar e é surpreendido pela esposa (0:46:05). É a partir daí que ele resolve mudar de vida.
Mais Informações
Título original: American Beauty. Produção: 1999. Classificação: 18 anos. Para ver mais acesse o portal oficial da Paramount Brasil: http://www.paramountbrasil.com.br/nossos_filmes_ficha.asp?idP=112460N&id=3899
EM DESTAQUE
Coisas da Vida
É mais fácil ver aquilo em que acreditamos que a realidade. Daí vem a famosa recomendação: se você for pego nu na cama com um(a) amante, negue, pois sempre há a possibilidade do cônjuge querer acreditar em sua fidelidade. No filme, o jovem traficante tem uma milionária aparelhagem de áudio e vídeo. Ele mora com a família e o pai acredita que comprou aquilo tudo trabalhando de garçom nas noites de sábado. Em (0:49:50) o rapaz comenta com Lester: “Nunca subestime o poder da negação.”
Queremos ser “iguais” para sermos aceitos e “diferentes” para reafirmar nossa identidade, nos destacarmos. A sociedade de consumo garante a igualdade: a indústria nos dá para comer, beber e vestir produtos idênticos aos de milhares de outros consumidores e todos vemos as mesmas histórias e piadas no cinema, tevê e Internet. Daí a imensa necessidade de nos diferenciarmos de alguma forma. No filme, a lourinha por quem Lester se apaixona sintetiza bem esse drama. Em (1:38:40), a pobre infeliz ouve do jovem do parágrafo anterior a maior maldade: “Você é absolutamente comum”. Fica arrasada.
Mensagem
O conforto material é importante, mas não é tudo (é insuficiente para uma vida feliz).
Foi o que Lester descobriu e sua mulher não.
Detalhes
(0:54:27) Enquanto o garoto focaliza uma pomba morta no chão, passa um avião voando no céu (no canto esquerdo inferior da tela).
(Serei propositalmente misterioso para não estragar a surpresa. Todavia, por excesso de precaução, você pode deixar para ler este item depois de assistir o filme.) Se você for conhecedor do assunto ou se estiver muito atento, pode reparar que o utensílio visto no desfecho do filme em (1:51:26) é diferente do que aparece em (1:42:01), (1:36:45) e (1:13:23): o que afasta a suspeita mais óbvia.
― 15 ―
Um comentário:
Gostei muito deste filme e sempre tive curiosidade de saber o motivo do título. Descobri que "American Beauty"é um tipo de rosa cultivada nos EEUU, mas nativa da.....França. Alguma analogia da hipocrisia na sociedade estadunidense? Belo trabalho, Flavio. Vai postando....e a gente vai lendo.
Odone
Postar um comentário