Tenho mais de 2.000 DVD e Blu-ray. Às vezes, tomo a liberdade de recomendar filmes de que gosto.

sábado, 26 de setembro de 2009

A COR PÚRPURA

A Cor Púrpura é uma saga, uma longa história em que os personagens crescem, se casam, têm filhos, não necessariamente nesta ordem, e envelhecem. O filme é muito bom, embora seja uma produção de 1985 e não tenha o ritmo alucinante de ação e emoção que caracteriza alguns dos melhores filmes atuais.

Numa comunidade rural no sul dos Estados Unidos, início do Século XX, Celie carrega a sina de ser mulher, negra, feia e pobre: vive submissa ao pai, depois ao marido, e sofre toda sorte de abusos.

Ela não se casa propriamente, é dada pelo pai para o viúvo Albert, que precisava de alguém para cuidar da casa, dos filhos e de suas necessidades sexuais. Sua única alegria é o convívio com a irmã Nettie, de quem vai ser precocemente separada.

Duas rebeldes, também mulheres e negras, fazem contraponto com a resignada Celie: Shug, amante de Albert, uma cantora linda e luxuriosa que escandaliza a sociedade conservadora em que vive; e Sofia, grande amor do filho mais velho de Albert, que não é de aceitar desaforo de ninguém, seja homem, mulher, branco, preto, rico ou pobre. Dá para imaginar a dimensão das reações que vão enfrentar.

Ainda tem a mulher do prefeito, uma personagem egoísta e caridosa. Como é possível? Assista o filme.

QUER MAIS?

11 indicações para o OSCAR 1986 (sem vencer nenhum) incluindo melhor filme, melhor roteiro adaptado e melhor atriz.
Alice Walker ganhou o Prêmio Pulitzer 1983 pelo livro que originou o roteiro do filme, também chamado A Cor Púrpura.
Direção de Spielberg, com Whoopi Goldberg e Danny Glover nos papéis principais. E para quem é fã da apresentadora Oprah Winfrey, ela está ótima no papel da personalíssima Sofia.

DIA IDEAL PARA ASSISTIR

Conheço gente que não gosta de assistir os jogos da seleção brasileira ao vivo porque fica nervoso. Mas depois que o time vence, assiste o vetê, deleitando-se com as dificuldades que sabe que serão superadas. A Cor Púrpura é o filme ideal para esse estado de espírito. Você vai se condoer com as maiores injustiças humanas sabendo, até porque estou lhe contando, que tudo acaba bem.

POR QUE GOSTEI?

Uma importante função da arte é produzir uma representação organizada da realidade para que ela possa ser mais bem aproveitada e entendida. Por exemplo, a beleza natural dos sons fica mais evidente quando estão organizados em forma de música, o mesmo pode-se dizer nas artes plásticas para formas e cores. A vida real é repleta de fatos inexplicáveis e casos mal resolvidos. A delícia deste filme é que, apesar de retratar vidas extremamente sofridas, tudo se encaixa maravilhosamente bem, com começo, meio e fim. Todas as histórias são brilhantemente conduzidas para seus finais felizes. É reconfortante ver, por duas horas e meia, que a felicidade tarda, mas não falha.

SERVIÇO

Para Acompanhar
O ambiente rural americano do filme pede pipoca, refrigerante e cerveja. Aipim frito, cortado em pequenos cubos, não cairia mal. Como o filme é longo, fica difícil conciliá-lo com o jantar, melhor fazer um intervalo maior para comer uns cachorros-quentes.

Pausa
No exemplar que possuo, o filme veio previamente dividido pelos lados A e B do disco. Caso sua versão seja contínua, você pode interromper a sessão no mesmo ponto, que é uma transição entre temas ao final da cena em que Celie veste uma roupa vermelha de Shug, brincam e vivem um momento de especial intimidade (1:12:06).

Mais Informações
Título original: The Color Purple. Produção: 1985. Classificação: 14 anos. Para ver a ficha técnica completa etc acesse o portal oficial da Warner Home Entertainment: http://www.melhoresdvds.com.br/pak.php?id=403

EM DESTAQUE

Curiosidade
(0:02:10) O filme inicia-se com as irmãs Celie e Nettie cantando uma canção infantil em que se repete a palavra-refrão makidada. Makidada, segundo a Internet, seria irmãzinha em Swahili, um idioma falado em vários países africanos. Faz sentido.

Mensagem
A força do hábito faz os maiores horrores parecerem naturais, inclusive, para as vítimas.

(0:43:08) Harpo, filho de Albert, reclama que sua mulher Sofia não o obedece e pergunta à Celie o que deve fazer. Acostumada a apanhar do marido por qualquer motivo, Celie responde candidamente: “bate nela”.

DETALHES

Três cenas capitais
(0:56:00) Shug Avery, tomando banho de banheira e conversando com Cilie, diz: “Seu pai gosta de você? O meu pai gosta de mim. Ele ainda gosta de mim... só que não sabe.” Até o momento, o espectador não tem idéia de quem seja esse pai, mas entende que não aceita a vida que ela leva, o que a entristece profundamente.

(2:04:25 ou Lado B, 0:45:41). Depois de décadas de submissão, com toda família reunida à mesa, Celie levanta a voz amaldiçoando Albert: “Até você me pagar tudo que deve, tudo que fizer vai andar para trás.” Ele lhe deve, acima de tudo, a reunião das irmãs que separou. Albert esbraveja, vitupera, mas sua verdadeira resposta virá anos depois.

(2:19:14 ou Lado B, 1:00:30). O coro da Igreja começa a cantar Deus tem algo a lhe dizer: “Fale Senhor, fale comigo, eu estava cego, eu estava perdido”. É como se Deus realmente falasse direto ao coração de três personagens, inclusive Albert, que aparece sentado numa cadeira de balanço, em inédito momento contemplativo.

― 3 ―

Nenhum comentário: