
Baseado em fatos reais, o filme conta a vida de Albert Pierrepoint, o carrasco inglês que enforcou 608 pessoas de 1933 a 1955. É uma história sombria e sem final feliz, mas, surpreendentemente, bela.
Como acontece a muitos filhos, ele seguiu a bem sucedida carreira do pai, esforçando-se por igualá-lo ou suplantá-lo, como, de fato, suplantou. É uma ocupação sigilosa em que o bom profissional busca aprimorar-se apenas por dever de consciência, pois não pode almejar promoções e, muito menos, reconhecimento público. Ninguém sabia o que Pierrepoint fazia, vizinhos, amigos ou a mulher com quem veio a se casar.
Qual o dever de um bom carrasco na concepção de Pierrepoint? Executar os condenados sem paixão, raiva ou desprezo, cumprindo seu dever cívico de forma a infligir a menor dor física e emocional possível à vítima. E, depois da execução, tratar o corpo com o respeito devido a um cidadão que acaba de quitar sua dívida com a sociedade.
Muitos profissionais acreditam conseguir separar completamente a vida pessoal da laboral. Pierrepoint conseguiu. E sua fleuma britânica nos leva a crer que ele pudesse fazê-lo indefinidamente. Mas não pôde.
O filme mostra as execuções respeitando o limite do estritamente necessário para o entendimento das tensões emocionais e morais da história. Não há cenas de violência explícita ou gratuita.
REFERÊNCIAS
Adrian Shergold é um diretor com extensa obra para tevê. Este é seu único filme para cinema de que tenho notícia.
Timothy Spall, o Pierrepoint, fez o bruxo Pedro Pettigrew, que durante muito tempo se escondeu como ratinho Perebas, nos filmes da franquia Harry Potter. Atuou ainda em: Flor do Deserto; Appaloosa – Uma Cidade Sem Lei; Sweeney Todd – O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet; Encantada; Atos que Desafiam a Morte; etc.
DIA IDEAL PARA ASSISTIR
Quando quiser assistir a uma boa história e estiver disposto a aguentar um filme pesado.
POR QUE GOSTEI?
O personagem principal exerce com nobreza uma função socialmente desvalorizada. É tipo “A Partida” (que já recomendei neste blog), mas sem final feliz.
SERVIÇO
Para Acompanhar
Nada de especial: refrigerantes, cervejas, batatas chips e pipoca.
Pausa
Um ponto bom para interromper a sessão aproximadamente no meio é ao final da sequência em que o casal se regozija de Pierrepoint ter sido convidado pessoalmente pelo famoso general Montgomery para executar as sentenças dos criminosos de guerra nazistas. Parar após Pierrepoint dizer orgulhoso: “Sou o número um” (0:39:32).
Mais Informações
Título original: Pierrepoint. Produção: 2005. Classificação: 14 anos. Para mais informações acesse o portal da Imagem Filmes: http://www.imagemfilmes.com.br/imagemfilmes/principal/filme.aspx?filme=103400&titulo=o-lavador-de-almas
EM DESTAQUE
Curiosidade
No filme, a última pessoa executada por Pierrepoint foi Ruth Ellis. É um fato histórico. Segundo a BBC News de 13 de Julho de 1955 (link abaixo), a modelo e hostess de boate Ruth Ellis, 28, foi condenada por matar seu amante, o piloto de automóvel David Blakely, 25. Ela não apelou da decisão. O caso teve grande repercussão popular: a Câmara dos Comuns recebeu um abaixo assinado pedindo clemência com milhares de assinaturas e a execução exigiu reforço policial porque uma multidão de mais de 500 pessoas acompanhava do lado de fora dos portões do presídio. O caso acirrou o debate sobre a pena de morte na Inglaterra.
Mensagem
A compaixão ― como o amor e as demais virtudes ― está nas ações e não nas palavras.
Pierrepoint é pouco comunicativo e parece uma pessoa desprovida de sentimentos, mas suas atitudes são profundamente compassivas.
Detalhes
(0:08:24) Quando a mãe de Albert Pierrepoint diz para ele “Não traga isso para dentro de casa” é para não trazer as emoções ou histórias do trabalho para a casa. Ele irá seguir o conselho até o limite do possível.
(0:10:43) Enquanto o outro carrasco especula sobre os sentimentos do condenado, Pierrepoint revisa mentalmente os detalhes técnicos da execução, aparentemente, alheio às emoções da vítima.
(0:13:40) O outro carrasco fica olhando o enforcado e passa mal. Provavelmente, como ele não deu ouvido às ponderações técnicas de Pierrepoint, a vítima não teve morte instantânea e ficou agonizando.
(0:15:40) Pierrepoint vai anotar os dados da execução. Ao mover um pouco o tinteiro vê-se uma pequena mancha de tinta de caneta bem no centro de uma florzinha bordada na toalha de mesa, certamente, resultado de um gota de tinta que caíra em ensaio ou gravação anterior da mesma cena.
(0:17:25) O filme se passa numa época (a partir de 1939) e local (Inglaterra) de particular apreço à privacidade, o que facilita para Pierrepoint manter secreta sua atividade. (0:17:25) A esposa não sabe em que o marido trabalha e, quando tem nas mãos o livro em que ele anota as execuções, não ousa abri-lo. Na sequência, seu patrão pergunta aonde o Sr. Pierrepoint vai em suas frequentes viagens. Ela responde que são “negócios privados”, encerrando o assunto.
No começo do filme, o instrutor diz que o condenado, ao ser conduzido para a sala da forca está desorientado, mas não se desespera porque acha que atrás daquela porta está o saguão de entrada. Por quê? Não ficou claro para mim. Vêem-se apenas duas portas na cela! A cena em (0:19:45) é mais esclarecedora porque deixa ver que a cela tem três portas, uma que dá entrada aos carrascos, por detrás do condenado, e duas outras, uma a sua esquerda e outra à direita. Quando os carrascos entram, a vítima se vira, instintivamente. Direita e esquerda se invertem, sem que ele se dê conta. A partir daí, retoma a consciência. Desta forma, quando é conduzida para uma porta fica com a impressão de estar indo para a oposta, aquela que acredita dar acesso ao inocente saguão por onde entrou.
(0:21:57) A defunta tem uma minúscula cabeça bovina estilizada acima do umbigo (o que me parece um anacronismo, pois acredito que, na época, mulheres de respeito não se tatuavam e as desregradas não fariam desenho tão discreto). Observe também que ela tem uma cicatriz de operação de apêndice.
(0:29:02) O respeito a privacidade, finalmente, sucumbi à suspeita que a notícia no jornal (0:18:38) provocou.
Quando Pierrepoint começou na profissão, a pena capital era pacificamente aceita. Mas passaram-se 22 anos e valores mudam com o tempo. Na cena em (0:57:20), uma mulher protesta contra a pena de morte. Por ironia, ela usa um casaco com gola de pele animal que, atualmente, talvez, seja moralmente mais condenável que executar culpados de crimes hediondos. Afinal, trata-se de matar animais inocentes, apenas para satisfazer a vaidade humana.
(1:15:56) Corre uma lágrima solitária no rosto de Pierrepoint.
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2 comentários:
Flávio, adorei essa sugestão. Gosto de filmes sobre fatos reais. Vou procurar na minha locadora!
Como você explicou ao lado que acaba revelando mais detalhes do que gostaria, preferi não ler o post todo, para não saber muito do filme antes de ver.
Depois de assitir volto para terminar a leitura e deixar minha opinião.
Au revoir!
Sylvia Pozzobon
Recomendaram a mim, ver este filme mas fiquei receosa ao ler a sinopse, agora lendo o que você expressou do filme fico mais encorajada a assisti-lo. Excelente iniciativa a sua, ao criar esse blog. Que assim continue.
Abraços
Viviane Leão
Goiânia-GO
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