Tenho mais de 2.000 DVD e Blu-ray. Às vezes, tomo a liberdade de recomendar filmes de que gosto.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

A PARTIDA

A história passa-se no Japão onde a profissão de músico erudito é altamente valorizada. O jovem Daigo é violoncelista de uma orquestra sinfônica em Tókio dissolvida pelo proprietário depois de apresentações para auditórios quase vazios. A esposa está disposta a sacrificar-se para que o marido insista na carreira, mas o músico desempregado conclui que não tem talento suficiente para tal. Resolve voltar para sua cidade natal e morar na casinha que herdou da mãe falecida. A esposa aceita sorridente sem expressar decepção ou desagrado.

Daigo, que não tem experiência fora da música, anima-se ao encontrar no jornal anúncio de emprego que não faz exigências. O texto não é claro, mas parece ser uma agência de turismo. Porém, na entrevista, descobre tratar-se de uma empresa especializada em vestir e maquiar mortos para cerimônias fúnebres. A remuneração é excelente. Ele hesita, mas o patrão o induz a aceitar o serviço.

Chegando em casa conta que conseguiu o emprego e que não era agência de viagens e sim de cerimônias. A mulher entende como cerimônia de casamento. E assim ele começa a trabalhar secretamente, sem que a esposa e os amigos de infância saibam em que. Mas um dia eles descobrem e reagem pessimamente.

Confesso que fui ao cinema apenas para fazer companhia a minha mulher, não queria assistir um filme sobre o cotidiano de um preparador de defuntos. Amei. É digno e emocionante.

REFERÊNCIAS

Yôjirô Takita dirigiu dezenas de filmes pouco conhecidos no Brasil.

Masahiro Motoki, o Daigo, atuou em dezenas de filmes também pouco conhecidos no Brasil.

QUER MAIS?

Vencedor do OSCAR 2008 de melhor filme em língua estrangeira.

DIA IDEAL PARA ASSISTIR

Quando quiser um filme de rara sensibilidade e cotidiano incomum.

POR QUE GOSTEI?

O tema me agrada: o ser humano digno, sublime, nas tarefas mais ingratas.

SERVIÇO

Para Acompanhar
É um filme bem japonês. Acho que seria adequado, para quem gosta, acompanhá-lo com saquê, sushi e sashimi.

Pausa
Um ponto bom para interromper a sessão aproximadamente no meio é, depois de um momento particularmente amoroso do casal, ao final da cena em que Daigo é chamado para um trabalho no meio da noite despertando a suspeita da mulher (1:05:10). É o primeiro sinal de que seu segredo será desvendado.

Mais Informações
Título original: Okuribito / Departures. Produção: 2008. Classificação: 12 anos. Para ver mais acesse o portal oficial do filme (em inglês): http://www.departures-themovie.com/

EM DESTAQUE

Curiosidades
(1:02:07) Num momento íntimo e feliz do casal a moça comenta: “Parece cena de uma canção enka”. Enka significa “canção interpretada”, é uma música tradicional japonesa que une canto e interpretação e, normalmente, fala de amor.

No ocidente, o sashimi e o sushi são pratos refinados. Porém, originalmente, o sashimi era apenas a proteína do fast-food japonês, uma fatia de peixe cru que se comia com pão ou arroz frio. Mais símples e rápido de preparar que o hambúrguer americano. Comida de quem não sabia, não queria ou não podia cozinhar: operários em obras, homens solitários, etc (1:29:50).

Mensagem
A dignidade não está no que se faz e sim em como se faz.

Daigo é músico de uma orquestra sinfônica e se torna um agente funerário que veste e maquia defuntos. É chocante a transição de uma profissão socialmente valorizada para outra tão desvalorizada. Sua dignidade na nova função é comovente.

Experiência Pessoal
(0:14:00) Ao desistir de ser músico erudito, Daigo lembra-se da promessa de vida glamorosa que fez ao pedir sua mulher em casamento: “As cidades do mundo serão nosso lar. Viveremos sempre em turnês”.
Quando jovem, recebi uma oferta de emprego que me obrigaria a morar alguns anos em Paris. Paris, que romântico! Minha namorada e eu decidimos nos casar. A oferta de emprego nunca se efetivou, mas nós já fizemos bodas de prata.

Detalhes
(0:10:35) O dono da orquestra anuncia aos músicos sua dissolução. Respeitosamente, porém sem uma palavra de explicação ou consolo e os músicos não questionam. Certamente é manifestação de um traço cultural japonês, pois ao longo do filme sentimos a mesma estranheza em outras situações.

(0:41:00) Sei que japoneses comem peixe cru, mas não sabia que também comem galinha crua.

(0:48:20) Uma amiga comentou que os salmões lentos e cinzas que aparecem subindo o rio estavam muito artificiais. Presenciei o fenômeno em Vancouver no Canadá. No fim da vida os salmões sobem o rio em busca da foz em que nasceram para se reproduzir e morrer, velhos e exaustos, exatamente como aparece no filme.

(0:57:03) Repare no lacinho branco aplicado no paletó preto do marido da falecida. Deve ser um símbolo de luto, equivalente à tarja preta que os ocidentais usam.

(1:35:25) Uma das minhas sequências favoritas no filme. Adoro quando o bom sujeito, finalmente, ganha respeito e admiração de seus pares.

(1:58:00) A outra das minhas sequências prediletas: compreensão e redenção.

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