
É uma história de suspense e horror. Uma família ― pai, mãe e filho pequeno ― é contratada para tomar conta de um hotel nas montanhas rochosas do Colorado durante o inverno, quando o clima é tão inóspito que isola o local e impede o trânsito de turistas. A tarefa é simples, basta ligar diariamente alguns equipamentos para que não se deteriorem por inatividade. Trabalho ideal para Jack Torrance, o pai da família, que precisa de sossego para escrever um livro. Todavia, o gerente alerta-o que o serviço é fisicamente simples, mas emocionalmente penoso: conta que um contratado anterior enlouqueceu com o prolongado isolamento e assassinou a mulher e duas filhas pequenas.
Não é daqueles filmes banais de terror que, após breve introdução, assustam o espectador o todo minuto. Começa com Jack Torrance indo fazer a entrevista de emprego. Ainda é outono, as paisagens de montanha estão deslumbrantes e o hotel é um verdadeiro paraíso de tranquilidade. Depois, a família se muda. É como ter um palácio somente para si. Mas, com o tempo, as pessoas começam a ter alucinações aterrorizantes, cada uma temendo a loucura das outras. A situação é agravada pelo isolamento total: as estradas ficam intransitáveis e as telecomunicações não funcionam.
O inusitado da história é que as ameaças não vêm do sobrenatural. Não há monstros no filme. São mortos que não atacam, apenas seduzem ou apavoram os vivos para que eles próprios se matem. O espectador é convidado para um drama familiar: Até que ponto deve-se tolerar a loucura de alguém que se ama? Pode o pai assassinar o filho que acredita ser mal? E a mulher matar o marido para evitar que ele faça a atrocidade?
O filho Danny é o iluminado do título do filme, tem intuições do que está acontecendo ou por acontecer e o poder de ver tragédias do passado, como o assassinato ocorrido no hotel em circunstância muito semelhante à que está vivendo.
REFERÊNCIAS
Stanley Kubrick, além de O Iluminado, dirigiu vários clássicos do cinema mundial: em Laranja Mecânica o líder de uma gangue que rouba, estupra e mata vai preso e é submetido a um programa experimental de ressocialização através de lavagem mental; em Dr. Fantástico, Peter Sellers é um general louco anticomunista que quer bombardear a União Soviética, sem perceber que isso provocaria a 3ª guerra Mundial; 2001 - Uma Odisséia no Espaço é considerado o maior filme de ficção científica de todos os tempos.
Jack Nicholson, o ator que interpreta Jack Torrance, foi indicado a 12 Oscar e ganhou 3, um por O Estranho no Ninho e 2 como melhor ator coadjuvante de Laços de Ternura e Melhor é Impossível. E ainda atuou em: Antes de Partir, Os infiltrados, Batman, Chinatown, etc.
DIA IDEAL PARA ASSISTIR
Quando você quiser assistir um bom filme de terror, bonito e elegante, sem exorcismos ou demônios. Apenas pessoas, vivas e mortas.
POR QUE GOSTEI?
O terror normalmente é sombrio e feio. Este filme é claro e bonito, na maior parte do tempo. O isolamento e a impossibilidade de socorro criam o clima de terror, não é preciso abusar da escuridão ou de figuras horripilantes.
SERVIÇO
Para Acompanhar
É cinema entretenimento, melhor acompanhar com pipoca e refrigerante. Quem estiver de dieta e quiser evitar as calorias da pipoca, aconselho mascar um chiclete sem açúcar para ajudar a controlar a tensão. Vinho tino seria de mau gosto por causa das cenas sanguináreas.
Pausa
Um ponto bom para interromper a sessão aproximadamente no meio é ao final da cena em que a mulher conta ao marido que o filho entrou em um quarto e alguém tentou estrangulá-lo (0:54:12). A partir daí, entra um novo elemento na trama.
Mais Informações
Título original: The Shining. Produção: 1980. Classificação: 16 anos. Para ver mais acesse o portal oficial da Warner Home Entertainment: http://www.melhoresdvds.com.br/pak.php?id=45
EM DESTAQUE
Falhas
Os mortos induzem as pessoas ao mal, mas não atuam diretamente: não movem objetos, nem ferem ou matam com as próprias mãos. Se pudessem fazê-lo, o filme não teria a graça que tem. Em (0:42:47) uma bolinha de tênis corre por um tapete indicando uma porta misteriosamente aberta onde a criança entra e, depois, surge com uma marca vermelha no pescoço. Tudo aparentemente provocado por força sobrenatural, porém, sem maiores implicações, além de aumentar o clima de terror. O que não me agradou foi os mortos interferirem decisivamente no mundo real para resolver a situação em (1:30:57).
(1:49:18) Aparece o antigo zelador do hotel com uma fenda ensanguentada na careca como se tivesse sido morto por uma machadada no topo da cabeça. Mas conforme contou o gerente em (0:06:28), ele se suicidou com um tiro de cartucheira na boca, depois de matar mulher e filhas. Estas sim, a machadadas.
Curiosidades
(0:04:17) O maior indicativo de que um filme é anterior à década de 1990 é o fumo. Nesta produção de 1980, a mãe da família aparece tomando café e, enquanto come e bebe, seu cigarro queima no cinzeiro com cinzas e guimbas.
A família é confinada solitária durante meses em um hotel e nunca a vemos assistindo televisão. Cheguei a pensar que não existisse tevê no hotel, mas em (1:36:23) aparece o aparelho apagado no quarto deles.
Mensagem
Não cutuque a onça com vara curta.
Ou seja, situações de risco propiciam desastres, físicos, emocionais e... sobrenaturais!
Experiência pessoal
(0:34:11) Vê-se a mãe da família tentando fazer uma ligação na mesa telefônica do hotel que é manual e de chaveamento mecânico. Quando eu era criança, ainda não havia DDD, a estação telefônica da cidade no interior de São Paulo, onde morava, era uma mesa dessas operada por telefonista. Uma ligação para o Rio de Janeiro demorava quatro, cinco horas para ser completada.
Detalhes
A célebre frase atribuída a Freud Às vezes um charuto é apenas um charuto quer dizer que embora o charuto possa ter conotações fálicas, às vezes ― eu diria, normalmente ―, não tem. Mas no cinema raramente os charutos são inocentes. Para poder contar muito em pouco tempo, a linguagem cinematográfica é necessariamente econômica. Se a cena mostra propositalmente um detalhe, por mais insignificante que pareça, deve ser importante no desenrolar da trama. Não é por acaso que um adulto olha a maquete do labirinto de cima (0:27:30) para, em seguida, vermos o que se passa lá, pelo mesmo ponto de vista. Dá a entender que o menino não é o único iluminado da família.
(0:40:50) O filho pergunta se o pai gosta do hotel e ele responde igual as meninas em (0:36:42): (gostaria que pudéssemos ficar aqui) para sempre, sempre e sempre. Mau sinal.
(1:18:48) É a cena antológica em que a mulher lê o livro que o marido está escrevendo.
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