Tenho mais de 2.000 DVD e Blu-ray. Às vezes, tomo a liberdade de recomendar filmes de que gosto.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

VOCÊ É TÃO BONITO

Filmes românticos exploram encontros e desencontros do amor. Normalmente, limitam-se aos amores ternos ou sensuais. Este vai além, vai ao ágape, aquele amor raro e sublime que, pela felicidade do outro, dispõe ao sacrifício e à renúncia, renúncia até à própria pessoa amada.

O filme conta a história de um agricultor francês que, como é comum na Europa Ocidental, não tem empregados na fazenda, o casal faz tudo. E a esposa ainda cuida da casa. Quando ela morre, vítima de um acidente, o fazendeiro consegue um ajudante para o trabalho externo, porém, a casa se desorganiza. Falta comida, falta roupa lavada, falta tudo. Não demora para o viúvo decidir casar-se novamente.

Procura uma agência matrimonial, não em busca de romance ou companhia, mas para encontrar outra mulher que faça tudo o que a falecida fazia. Lá, fica sabendo que o melhor lugar para encontrar uma esposa assim é na Romênia, país pobre onde as mulheres aceitam qualquer condição para se casar com um francês e imigrar para França em busca de melhores oportunidades.

E assim ele faz, vai à Romênia e traz uma candidata. Mas ela revela-se uma moça sensível, que não se adapta facilmente ao papel da esposa-empregada que ele procura. E o que era para ser simples substituição de mão de obra “escrava” vira uma relação emotiva com mal-entendidos e suscetibilidades feridas, enfim, com todos os ingredientes de uma boa trama romântica.

REFERÊNCIAS

Isabelle Mergault dirigiu Enfim Viúva em 2007: Quando Michèle Laroque fica viúva, pensa poder coabitar com o amante, mas sua família se muda para sua casa para lhe dar “apoio emocional” e a controla mais do que o marido fazia. Seus outros filmes não foram distribuídos ou não tiveram maior repercussão no Brasil.

Michel Blanc, o fazendeiro, atuou em: Beije Quem Você Quiser; Estressadíssimo; A Última Tempestade; O Favor, O Relógio e o Peixe Muito Grande; etc.

Medeea Marinescu, a noiva romena, tem vasta carreira no cinema e tevê europeus, filmes que não foram distribuídos ou não tiveram repercussão no Brasil.

DIA IDEAL PARA ASSISTIR

Um filme leve, apropriado para qualquer platéia, a qualquer dia e momento.

POR QUE GOSTEI?

Porque o amor ágape, que compreende sacrifício e renúncia, me comove.

SERVIÇO

Para Acompanhar
Porque Aymé simula uma viagem a Alemanha, a comida com maior destaque no filme é chucrute com salsicha. Com é meio esquisito assistir filme comendo chucrute, recomendo acompanhar a sessão com salsichas variadas acompanhadas de mostarda alemã, marrom e amarela. Servir cerveja, além de água e refrigerantes. Se quiser dar um toque francês, pode acrescentar pães e queijos. Como o paladar de salsicha com mostarda é intenso, recomenda-se que os queijos também tenham sabor marcante, como o Roquefort, feito de leite de ovelha e o Chèvre, de leite de cabra, que costuma ser temperado com pimenta do reino moída, pimenta rosa ou curry.

Pausa
Um bom ponto para interromper a sessão aproximadamente ao meio é em (0:48:54) ao final da sequência em que Aymé e Elena retornam do concurso do coelho mais gordo. A seguir, o filme galga um novo patamar dramático.

Mais Informações
Título original: Je vous trouve très beau. Produção: 2005. Classificação: Livre. Veja o portal oficial do filme, em francês, em http://www.jevoustrouvetresbeau-lefilm.com/,  ou em português na Pandora Filmes: http://www.pandorafilmes.com.br/0_2_pandora_catalogo.asp?filmeId=157

EM DESTAQUE

Curiosidade
O livro Écho A2 Méthode de Français adotado pela Aliança Francesa traz na página 57 a foto de Aymé e Elena e o seguinte resumo do filme que traduzi livremente como: No filme Você é tão bonito, um agricultor fica viúvo e parte a procura de uma companheira que possa lhe ajudar em seu trabalho. Não é fácil em sua região onde as moças preferem não trabalhar no campo. Ele utiliza então os serviços de uma agência matrimonial...

Mensagem
É bom  fazer o bem a quem se ama.

O fazendeiro Aymé Pigrenet é um sujeito ranzinza e egoísta que, tocado pelo amor, toma uma atitude profundamente generosa e, com a ajuda da sorte, é recompensado.

Tradutor, traidor
(1:02:08) O atendente da loja de fotografias diz, em francês: é o Palácio de Ceausescu, ele e a Muralha da China são as duas coisas que se vê da Lua. Mas a legenda em português ficou surreal: Veja. O Palácio de Ceausescu. Dá pra ver a Muralha da China da Lua.

Detalhes
(0:11:11) No sumário inicial revelei que Aymé Pigrenet não aguenta muito tempo a bagunça em que sua casa se transforma com a morte da esposa e sai a procura de outra “Amélia”. Aqui vemos que sua tolerância esgotou-se em exatos 10 dias.

(0:11:45) Sua companheira de sala de espera na agência matrimonial lembra-se, saudosa, do tempo em que pedia no restaurante sobremesa com duas colheres. Aymé Pigrenet, apesar de também ter sido casado, nunca teve tal experiência romântica. Terá em (0:42:58).

(0:12:45) Atenção ao abajur da agência matrimonial em forma de meia corista (da cintura para baixo), nada é mais kitsch.

(0:25:09) É este palácio que dá para ver da Lua, conforme será revelado mais à frente no filme.

(0:26:17) Certamente, foi esta foto do pastor alemão que, inadvertidamente, retratou ao fundo o Palácio do ditador romeno Nicolae Ceausescu.

(0:36:37) Elena dá uma gardênia para Aymé. Ela, que não fala bem francês, pensa que o nome da flor se pronuncia gardemoá, mesma pronúncia de garde moi, que significaria fique comigo. Se Aymé vai ficar ou não com Elena, a vitalidade da planta vai nos dizer, primeiro, na visita do amigo a Aymé em (1:04:12) e, ao final do filme, quando Aymé sai para trabalhar em (1:30:26).

(0:42:50) Aymé pergunta se Elena tem filhos e, antes que ela responda, conclui que não, pois, se os tivesse, não teria vindo para França. Elena sente um mal-estar, aparentemente passageiro, que ficará latente até explodir no telefonema para filha em (0:57:24), com o “Obrigado, senhora”.

(0:52:41) Diálogo especialmente emocionante: ela dentro da cabine telefônica envidraçada, ele do lado de fora.

(1:08:39) A carta de amor que Elena escreve para a filha é traduzida pela mulher da agência matrimonial que a interpreta como uma carta de amor para o próprio Aymé. Ele, sabendo que a carta não era para si, só pode concluir que seria para um outro homem que Elena teria deixado na Romênia. O que valoriza ainda mais a atitude que tomará à seguir.

(1:16:30) Elena e Aymé ouvem juntos a canção Domino (J. Plante e L. Ferrari, arranjo de A. Grassi, cantada por André Claveau ). Estão passando pelo auge do desencontro. A letra é uma queixa que tanto ela quanto ele têm, pois nenhum dos dois sente seu amor correspondido. Fiz uma tradução livre da estrofe que se ouve no filme (vídeo e letra completa, em francês, em: http://letras.terra.com.br/claveau-andre/49614/):

A primavera canta em mim, Dominique, / O sol brilha, / Meu coração é uma caixa de música. / Eu preciso de você,  / De suas mãos em mim, / De seu corpo macio e quente. / Eu preciso ser amado Domino. / Perceba (desconfie), meu amor, que eu lhe perdoei demais, / Perdi mais noites do que você me deu, / Muito mais horas esperei, / Que a tive sobre meu peito (coração). / Pode ser que eu tenha lhe feito mal, / Você me fez mal igual e não se importa. / Você se diverte com minhas dores, e eu não me canso de te amar.

(1:21:35) No aeroporto: disposição para o auto-sacrifício pelo bem do outro (ágape), de parte a parte.

(1:28:59) A Revelação!
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Um comentário:

Unknown disse...

Gostei demais deste filme! Fez um ogro sentir-se sentimental!O casal tem uma sintonia perfeita!